era pequenininho o mundo: corria da casa grande onde o avô morava comigo à casa da avó, que ficava na mesma rua, que era o mundo. e o avô, que não era avô mas bisavô, não era avô dos netos da avó que morava na mesma rua. era um avô só para mim. nesses tempos, deus estava no céu e o avô na casa grande. e o avô, que era o bisavô, era da idade de deus.
o avô via bem, melhor que eu, porque já tinha visto o mundo que havia para ver para lá daquela rua, mas ouvia mal. e se o avô não ouvia bem, deus era mouco, decerto: deus e o avô tinham feito a recruta juntos. para o avô me ouvir eu trepava-lhe para o colo e falinhava juntinho aos ouvidos dele. e quando tinha que rezar
santificado seja o vosso nome venha a nós o vosso reino
trepava para a chaminé porque deus era um senhor muito velho e eu tinha que lhe explicar tudozinho ao ouvido. como ao avô.
e deus, tal como o avô, ouvia-me. nesses tempos.